sexta-feira, maio 27, 2005

poesia artesanal

está tendo na cinelândia uma feira de livros. eu sempre passo por dentro do corredor da feira de livros pensando se por osmose consigo captar os espiritos ali presentes em palavras. um dia antes de entrar no corredor da feira fui abordado por um ser de cabelos encaracolados olhos verde-vermelhos angelicais que me perguntou: "você gosta de poesia ? " eu respondi que sim. ele me mostrou um bilhete-livreto amarelo e dobrado escrito a mão e disse que não conseguiu uma editora para publicar seus poemas e por isso fez essa "maloca" para colocar seus poemas. me pediu uma força e então me (ven)deu sua maloca de palavras.
fiquei lendo no elevador subindo pro trabalho.
fiquei lendo ao ligar o computador.
e do que li, que alias achei muito bom, transcrevo aqui sem a permissão do autor dois poemas, o primeiro foi o que eu mais me identifiquei e o segundo o que eu achei mais belo.

(SEM TITULO)

DESCOBRI QUE ESTAR
TRANQUILO ME ENCOMODA,
PREFIRO A ANGÚSTIA
A REVOLTA
E OS CAMINHOS TORTOS
QUE NÃO LEVAM PARA CASA.

(SEM TITULO)

AMANHECEU MARIA
EU(?)
CONTINUO NOITE
Ah... MARIA
AMANHECEU SOZINHA.
POBRE CORPO ESCULTURAL
SEDENTO DE SEXO E DOR
QUE, CULTIVAS A CAMA LOTADA
E A CASA VAZIA.

Renato Limão em Poesia Maloqueirista
(renato_limao@yahoo.com.br)

valeu limão !!!!!!

quinta-feira, maio 26, 2005

SOS parte 2

e mais um bilhete de SOS dentro de uma garrafa foi encontrado, e nele estava escrito:
"naveguei por abismos de mares, por navios naufragados e baleias em extinção, até chegar em suas mãos. esse não é um pedido de SOS. é um comunicado. a pessoa que escreveu está numa ilha no meio do atlantico. em uma ilha que não consta nas cartas náuticas. mas que ao mesmo tempo é facilmente encontrada. essa pessoa está a busca. ela não precisa de socorro. e não quer resgate. ela fica correndo ao redor da ilha como um cão correndo atrás de seu próprio rabo. ela está a procura. está procurando a coisa que ela acredita ser a mais dificil de ser encontrada. ela está a busca de si mesma. ai você se pergunta: porque então ela escreveu o bilhete? "

o caçador de abismos

Espero o próximo abismo. Laço uma linha tênue em um frágil graveto ao meu lado e na outra extremidade jogo uma flecha pro outro lado. hummm. tal qual um mestre dos nós, ajusto um pouco a corda. pronto. já está retesada o suficiente para me lançar! atravesso andando lentamente por sobre o desconhecido. sinto mais vontade de me jogar do que continuar andando. pronto. parei no meio. se eu chegar do outro lado terei passado a melhor parte: - o desafio! sim, sou um domador de meus próprios sentimentos desenfreados. agora, somente o medo. o pavor! o horror! e lá embaixo quem sabe?
continuo no meio da corda a balançar...
vislumbro lá embaixo meu pai sem dentes. vejo nessa linha minha salvação. mas não quero continuar. me lembro de um texto do nietzche: "o homem é uma corda atada entre o animal e o além do homem. uma corda sobre um abismo. perigoso olhar para trás. perigoso..." sim, perigoso. mas vivo ainda!
continuo no meio da corda a balançar...
se eu atravessar terei que encontrar outro abismo. uma incansável busca pelo esquecimento de mim mesmo. e aqui encontro com meu eu mais animal. aqui nessa linha encontro uma vida: a preparação, o hesitar, a crise, o medo, a esperança, a vontade, e por fim a glória ou a derrota. bah! não a glória e a derrota que vemos nos filmes de hollywood. a glória como transposição e a derrota como renascimento!
andei mais um pouco...
o fim está próximo. ali, logo ali a flecha: meu impulso vital. lá atrás o frágil graveto: minha melancolia.
hesito em chegar e essa aventura terminar.
hesito em terminar e ter que procurar mais um abismo a transpassar.
mas ficar aqui também me matará de tédio.
tenho que dar mais um passo.
pronto.
mais um fim.
mais um abismo se foi.
ficarei satisfeito até amanhã de manhã quando de novo o vazio tomará conta de mim.
aí,
lá vou eu mais uma vez a procurar
abismos a transpassar.

quarta-feira, maio 18, 2005

Hesitar

Só hesitamos quando estamos prontos. Quando temos tudo o que é necessário para dar o próximo passo, mas na hora, hesitamos. Trememos na base. Quero que TU tremas na base. Pois sei que já estás pronto. Já tens tudo o que precisa. Que falta para ir em direção à tua felicidade? Que mais precisas fazer? Estás a esperar o que? O que?

domingo, maio 15, 2005

Família

Família, o porto seguro de qualquer ser humano. Onde há amor sem limites, onde todos se ajudam, onde o que importa é o bem estar geral. Onde nos sentimos seguros e confortáveis. Onde podemos falar tudo o que vem a nossa cabeça, sem medo de que seja mal interpretado, sem que possamos perder nosso emprego, amizade ou posição. Mas e se não existe nada disso? O que é a família então? Darei assim um exemplo bem particular dessa organização social humana, a minha própria família.
Aqui, se há amor, trata-se de algo raro. Algo que quase nunca se vê. Se há, realmente não duvido, mas é visto como algo a se esconder, no fundo do porão, onde ninguém possa ver, e onde raramente lembramos que existe. O amor é guardado numa caixa lá no fundo, embaixo das caixas que contém tudo o que não tem a menor utilidade. Aqui, o que importa é o bem estar superficial. Se para aqueles que aparecem de vez em quando, e quando aparecem, me tranco no quarto e leio meu jornal, estiver tudo em harmonia,não há porque se preocupar. Estamos bem. Maravilhosamente bem!!
Família. Serão todas assim? Cheio de gente estranha que mal se conhece, que tem medo de conversar, que se irritam quando invadem seu espaço privado, como se estivessem virando de avesso sua própria alma? Se é assim uma família normal, tenho uma família feliz. Onde padrões familiares se repetem, de pai para filho, de mulher para homem, de homem para mulher, de pessoa para pessoa, perpetuando o mesmo erro, através de gerações e gerações, tornando a vida algo digno de ser amaldiçoado. Louvada seja a minha família! Onde tudo o que você quer, nunca se concretiza, e parece mesmo um crime hediondo.Onde cada tentativa de mudar as coisas é fadada ao fracasso antes mesmo de começar. Onde se vê que dinheiro não traz felicidade. Onde cada membro permanece sozinho e triste, como se estivesse isolado num deserto. Onde tudo e todos no fim são apenas tijolos que contribuem para a grande muralha, a grande prisão para qualquer afeto ou amor. Ainda bem que tenho minha família. Pois se tivesse nascido em outro lugar, talvez poderia ser feliz.

Mostrar-se

Faço parte deste mundo. Mesmo que não queira, faço parte. Sou um corpo animado, vivo, que perambula por essa terra abstrata de ninguém. Instinto de aparecer, diriam os pós-modernos. O ser humano aparece como fenômeno para si e para os outros. Quer queira, quer não. Tudo o que faço, tem uma consequência, por mais que isso seja tudo o que não quero. Quero viver minha vida em paz, sem consequências para ninguém. Praticamente tudo o que mostro, não é o que quero mostrar. De qualquer jeito, me mostro. Insconscientemente, me mostro. Como diria Heráclito, quando os meninos se entretinham a catar piolhos disseram: "Tudo o que vimos, tiramos, o que não vimos, carregamos conosco". O que mostro para os outros é pouco, mas ainda sim é mais do que desejaria mostrar. Permanece o essencial, o triste, o secreto dentro de mim, a me corroer, a dilacerar todo o amor. Mas ainda assim, meus atos, minhas ações, expressões, intelecções, falam mais do que gostaria que falassem. Falam por mim, mais do que eu próprio falo de fato. Meu silêncio, minha abstinência da vida, fala mais do que mil palavras que eu poderia escolher, falariam. Ainda assim, permanece o essencial. Ou não? Talvez eu diga tudo, talvez todos saibam do que eu mesmo não tenho conhecimento em mim mesmo. Talvez só hesitem em falar. Sabem de tudo, mas não falam. Observam como se observa um macaco no zóológico. Dizem eles por dentro: "Olha lá, como ele é inteligente, até parece que está tentando falar algo. Olha só, ele gosta de bananas. Ih! aquele gemido parecia que ele estava realmente dizendo algo.Meu Deus, será que ele não vê que é um macaco? Nossa, como ele parece humano". Falo mais do que gostaria de falar. Ou do que posso falar. Como se não soubessem. Como se eu pudesse esconder. Não há nada escondido, não há mistérios em meu ser, em minha pessoa, assim como não há mistérios no mundo. O que há, são mal intérpretes. Não conseguem ver além daquilo que vêem com os próprios olhos. Mesmo que esse além esteja tão nitido quanto o mais físico, mais material que um objeto pode ser. Não há metafísica, só há cegos. E numa terra de cegos, aquele que só tem um olho é rei.

terça-feira, maio 10, 2005

A incrível arte de ressucitar defuntos

mais um dia!!!!
vamos, levante moribundo! em marcha, ande!
ande logo, carregue seu fardo, e agradeça por estar leve demais.
e agradeça por estar vivo.
e agradeça por ter o que tens.
e agradeça pela saúde que tens.
e agradeça pelos poucos e preciosos amigos que tens.
e agradeça pela família que tens.
e agradeça pela incrível capacidade de conseguir hoje enxergar as cores nesse dia completamente cinza.

Vida

Estão todos mortos ao meu redor. Vivem somente para seus egos. Nenhum olhar que brilha, só o que vejo é sofrimento e confusão. Quero que todos morram para si mesmos! Morram para seus objetivos, sonhos e desejos enrustidos! Um lampejo de vida dá sinal em meu ventre mas hesita diante de cadáveres ambulantes dotados de sonhos, pensamentos e podridão. A mediocridade toma conta. Foda-se essa merda de geração! Não vejo vida em lugar algum.

segunda-feira, maio 09, 2005

SOS

minha poesia é repleta de mágoas. de sofrimento. de desamor.
minha alma é repleta de angústias. de sonhos não realizados. de desejos contidos. de tesões enrustidos.
meu dia-a-dia é repleto de questionamentos.
entro sempre num redemoinho envolvido pelos nebulosos braços que meu inconsciente criou. e náufrago jogo minha garrafa de SOS aonde está escrito: "queria saber o que querer".

hoje não vim mostrar minha felicidade.
hoje não vim falar de amor.

hoje não vim trazer a poesia.
hoje vim trazer a dor.

queria chorar todas as lágrimas. mas como viver como um peixe?

queria dizer coisas belas. energéticas. que provocassem aquele furor interior e iluminassem o dia depois de um temporal.

mas hoje foi muito pra mim.
hoje foi muito.
hoje foi.
ainda bem que o verbo está no passado.
passou.

mentira. não passou nada. mais uma vez engano-me. é difícil aceitar o meu inconsciente como sendo eu mesmo. pra mim ele parece uma entidade indomável. parece que ele conspira contra mim. sendo que na realidade ele me protege. é minha parte mais animal. o instinto da sobrevivência. mas será que ele não sabe que está me fazendo mal? que todo excesso de protecionismo acaba trazendo o seu revés?

do avesso me viro
no colo
do travesseiro
eu vivo


triste isso não? haha me deu até náuseas de tão ridículo. me senti um feto carente depois de escrever isso. mas tá ai pra quem quizer ler.
e no decorrer desse texto lendo e relendo e messenger pulando e outros e-mails sendo lidos foi tudo se passando.
está tudo ficando mais calmo. minha tristeza passando. até um sorriso saiu agora de meu rosto.
é, acho que o náufrago lá em cima acabou de ser resgatado.

quarta-feira, maio 04, 2005

Tristeza

Uma tristeza invade minha vida, sem pedir licença. Quem te chamou aqui? Estava tudo tão bem!!!!! De qualquer jeito, quer eu queira, quer não, ela está aqui. Como um parasita a me sugar toda a energia, a energia que fazia a máquina viver, a engrenagem rodar, com a missão de que tudo fique tão igual e monótono como estava. Que felicidade era minha vida! Como era bom meu tempo de máquina, uma máquina feita de pensamentos, meio enferrujada concordo, com alguns problemas de adaptação, mas nada que a tecnologia dos acontecimentos e do tempo não pudessem resolver. Eu era sim, uma máquina. Feita de pensamentos, que insistiam em ser logo contraditos, mas nada que o tempo não consertasse. Logo, tudo ficaria bem. Como estava.
Maldita tristeza que me apareceu, desfazendo meu sonho de continuar sempre sendo uma criançinha medíocre, que não desistia de dissolver todos os seus sonhos. Amaldiçoada seja essa tristeza, essa angústia que não cessa de me fazer crer que estou vivo, que devo olhar para minha existência como algo sagrado e infinitamente valioso. Mas que lástima! Será que não poderei mais me esconder entre máscaras que invalidam toda e qualquer experiência autêntica que eu possa ter? Nada mais de rotinas matematicamente calculadas, premeditando todo e qualquer risco que me faça acordar? Não terei mais uma vida completamente sem sentido, onde tudo e todos não possam me tocar onde realmente importa ser tocado? Onde pensamentos justifiquem o tempo todo minha posição tão confortável diante da vida, onde a filosofia, e haja tanta filosofia, que dê conta de tudo o que me faz hesitar diante do rio, correndo assustado e completamente desesperado quando meu pai me acena de sua canoa, feliz de ver minha disposição em substituí-lo na temível aventura que é a própria vida! como um torcedor na arquibancada de um estádio imenso que é a vida, criticando os jogadores, olha como eles são patéticos correndo atrás de uma bola, de um desejo,um objetivo, de um amor. Amaldicoada seja essa tristeza que me invade como um suplicar que diz "viva sua existência feliz."

terça-feira, maio 03, 2005

espelho

quero ver sua poesia !!!!
nada mais de livros e frases feitas !!!
nada mais de razão !!!
esvazie sua mente de tudo o que tem lido !!!
vomite todos os livros !!!
vomite kant .. shopenhauzeswarzneger ... nietzche ... platão ... baudelaire .... sartre ... buda .... jesus ... deixe os vermes comerem seu vômito ...
veja depois o que acontecerá: do vômito brotarão raízes, fungos, musgos enraizarão no chão criando o cimento da sua condição.
respire !!! respire !!!
inspire !!! inspire !!!
corra !!! corra !!!
pense !!! pense !!!
sinta !!! sinta !!!
seja a poesia !
viva a poesia !
escreva a poesia !
pare de ler esses filósofos !!! de um tempo a eles !!! de um tempo a você deles !!! vire você o filósofo !!! faça a sua filosofia !!! crie a sua filosofia !!! viva a sua filosofia !!! e que seja ela esquizofrenia de tanta poesia !!!
dance com a chuva !!!
dance com a sua filosofia !!!
dance com a sua poesia !!!
dance !!!