sexta-feira, outubro 21, 2005

uma história desinteressante da vida comum

personagens:
gabriel - analista de sistemas, escalador, burguês e yuppie existencialista.
rosinha - empregada doméstica.
renata - namorada do gabriel, professora de pilates e fisioterapeuta.
bruno - fotógrafo, amigo e vizinho do gabriel
rafael - auditor e escalador amigo do gabriel.
antonio - pai de gabriel, não trabalha, maluco e alcólatra.
mãe da síndica - aposentada, surda e chata.

uma introdução:
rosinha veio da paraíba, se casou, não tem filhos e mora na comunidade do complexo do alemão em jacarezinho. toda sexta ela pega o trem e salta na leopoldina deonde pega o 460 e salta na lagoa para ir até a casa de gabriel, no jardim botanico, trabalhar como diarista. as obrigações diárias dela consistem em passar roupa, dar uma geral na casa e fazer uma quantidade razoável de comida que dure uma semana. às vezes, também, vai ao supermercado quando gabriel está com preguiça de fazer as compras, mas o supermercado é perto, fica a menos de dois quarteirões da casa dele. ela chega as 9 da manha e sai por volta das 4 da tarde. gabriel gosta muito dela e de sua comida, não a explora, não dá ordens e apesar dela não ter carteira assinada, ele procura sempre no final de ano dar um bom agrado a ela. bem ... horário flexivel, conversas amigáveis, liberdade ... gabriel se acha um cara bondoso.

a história desinteressante:

(8:30 da manhã e gabriel ainda deitado na cama e rosinha abrindo a porta de casa)

rosinha: "gabiiiiiiii!!"
gabriel: "ôôôôôôôôôôôba"
rosinha: "bom dia!"
gabriel: "bom dia!"

(silêncio. gabriel ainda deitado na cama olhando para o teto. rosinha vai até a área e pega as camisas sociais no varal para passar.)

gabriel: "rosinha, vai lá trabalhar pra mim."
rosinha: "mas eu não sei fazer o que você faz."
gabriel: "é só ligar o computador e ficar olhando pra tela que tá tudo bem"
rosinha: "é isso que você faz é?"
gabriel: "é"

(gabriel continua deitado na cama olhando pro teto)

rosinha em tom de reprovação: "levanta da cama! vai! tanta gente procurando emprego por ai e você ai resmugando!"

(gabriel rapidamente se levanta da cama e vai fazer compras no supermercado. compra batata baroa pra fazer purê, cenoura para fazer cozida, frango, farinha de trigo e peito de frango para fazer dois empadões de frango e 4 latas de leite moça para fazer doce leite na panela de pressão. [sabiam disso? é bonzão - você coloca as latas na panela de pressão com água cobrindo elas e depois que começa a apitar deixe por 40 minutos. pronto! e temos o mais maravilhoso doce de leite!] gabriel diz que o empadão da rosinha é algo fabuloso. ele mandou fazer dois porque foi aniversario de um amigo dele, o basa, que mora um andar acima de sua casa e gabriel resolveu dar um empadão e duas latas de doce de leite de presente de aniversário para ele que se amarra no empadão da rosinha e se amarrou no esquema do doce de leite que ele não conhecia. gabriel chegou em casa e rosinha disse que o telefone celular tinha tocado e que tinha ligado uma moça pro telefone comum dizendo que o paciente antonio estava solicitando sua visita à clínica de recuperação. gabriel ficou resmungando e foi ver quem tinha ligado pro celular e ligou de volta.)

gabriel: coeh rapá
rafael: fala bilbo
gabriel: diga
rafael: mermão, que parada foi aquela que tu me arrumou?????
gabriel: é cara!!! mó onda!!!! UHAhuahuaUHaUHuhahuauhAhuaHUaUH
rafael: dei um doizinho sentado na privada antes de tomar banho e fui ficando estranho, estranho e depois do banho fui fazer meu alongamento e depois durmi que nem um buda!!!!!
gabriel: HUAuhaUhaUHaUHhuahuauhaUHAUHuhAuha
rafael: vamo almoçar hj?
gabriel: só se for tarde, estou atrasadão pro trabalho... já vou chegar tardão lá...
rafael: blz, me liga.
gabriel: valeu, abração

(gabriel foi tomar banho. no banho se lembrou do sonho que teve com a renata que apesar de não se lembrar, ficou um sentimento estranho de mal estar - era um sentimento de rejeição. ao sair do banho ligou para ela)

gabriel: oi
renata: oi
gabriel: po tive um sonho estranhao com vocÊ
renata: q q vc sonhou?
gabriel: não lembro ... mas lembro do sentimento ruim que ficou
renata: qual foi?
gabriel: um sentimento de rejeição
renata: ah .. não fica assim não!!! eu nunca te rejeitaria!!!
gabriel: show
renata: vem aqui pra casa de noite
gabriel: demorô
renata: bjos bjos
gabriel: vários bjoss

(gabriel ficou tranquilo, se arrumou pro trabalho e preparou a mochila porque no dia seguinte iria ter que trabalhar numa fábrica de armários de cozinha, que é um freelance que ele arrumou.
rosinha ainda estava passando roupa na sala e gabriel foi calçar o tênis sentado na escadinha que tem na porta que dá acesso a varanda.)

gabriel: "pô rosinha, chatão passar roupa né? tu tá ai a mó tempão."
rosinha: "é, não é o que eu mais gosto de fazer não..."
gabriel: "se meu chefe e nego lá no centro não se importasse com essa merda tu não taria ai de jeito nenhum"
rosinha rindo: "o que que deu em você hoje?? às vezes te dá essas esquisitices..."

(gabriel tomando seu café da manhã)

gabriel: rosinha.. vc se casou em igreja?
rosinha: sim
gabriel: quando eu for me casar não quero me casar em igreja não. se é que algum dia vou me casar.
rosinha: haha hoje vc está engraçado... meu marido não queria se casar em igreja não. pra ele tanto fazia. mas eu cheguei pra ele e falei: "se você não quizer casar em igreja vai arrumar outra. comigo vai ter que ser em igreja!" e ele pra não ter trabalho foi lá e se casou comigo mesmo ...

(depois de terminado o café, antonio ligou a cobrar pro seu celular)

gabriel: fala doença
antonio: fala verme!
gabriel: diga
antonio: os seguranças estão aqui entrando em todos os quartos revirando tudo - falou agitado
gabriel: hã? q q tah rolando ai?? ele tão fazendo o que??
antonio: nada, nada é só inspessão de rotina
gabriel: ah tah ... ah pai vc ligou a cobrar pro celular ... tah mal falar assim ... depois nos falamos
antonio: tah blz depois me liga
gabriel: falou!! bjos, tchau
antonio: bjos

(desejou bom final de semana a rosinha e saiu de casa. se encontrou com a mãe da síndica na porta alugando o motoqueiro da cipa. ela o parou e começou a falar:)

mãe da síndica: já viu isso? - falou apontando para a outra entrada do meu prédio com a porta aberta, para onde gabriel olhou e viu que tava o chão todo cagado com cocô de cachorro
gabriel: karaka
mãe da síndica: é cocô humano?
gabriel: acho que é de cachorro ...
mãe da síndica: curioso... só eu e o bruno temos cachorro...
gabriel: hummmmm
mãe da síndica: agora, quem vai limpar isso aqui? eu?
gabriel: é .... sei lá .... bem, vou indo
mãe da síndica: ....

(ela balbuciou algo que gabriel não escutou pois já tinha descido a rua. gabriel pensou se o basa, como tinha bebido horrores na noite anterior comemorando seu aniversário, não teria na madruga descido com o cão já desesperado pra cagar e se não teria cagado tudo...
gabriel foi e esperou o ônibus no ponto. como o primeiro ônibus que apareceu foi um daqueles frescões que vem da gávea em direção a praça mauá, gabriel pensou nos trÊs reais da passagem mas não exitou e pegou ele mesmo. também, ele se amarra numa mordomia e esse ônibus tem as poltronas confortáveis e o ar condicionado potente! gabriel entrou e se acomodou em sua poltrona, abriu a portinhola do vento e o direcionou diretamente para cima dele. abriu a mochila e pegou o livro que tinha comprado no dia anterior na feira de livros que tava tendo no largo do machado logo depois que saiu da terapia. o que mais chamou a sua atenção no livro foi o título "como mover o monte fuji?" - logo gabriel que adora esses koan's orientais. pediu o livro para dar uma olhada e viu que era um livro falando sobre as perguntas que são feitas durante as entrevistas para selecionar profissionais para a microsoft. tinha no livro perguntas de lógica, probalidade e koan's impossíveis! gabriel gostou, comprou e agora o estava tentando ler no conforto do ônibus indo pro trabalho. mas como é difícil para ele se concentrar em livros tendo um novo universo a sua frente vivo! - não é de costume ele pegar esse ônibus, geralmente ele pega os normais de 1,80 mesmo. ficou reparando no tipo de pessoas que pegam esse ônibus: uma senhora mais velha entrou e ficou de cara emburrada resmungando alguma coisa com o cartão do riocard na mão enquanto pegava o dinheiro na bolsa; logo depois entrou um coroa meio troglodita de cara emburrada e começou a discutir com outro porque o outro estava sentado lendo um jornal com as pernas cruzadas e o pé apontado para o corredor e o troglodita encostou a calça social no sapato do outro. o troglodita reclamou, resmungou, o outro ignorou e o troglodita saiu bufando esbarrando em todas as cadeiras e foi pro final do ônibus; mais uma figura entrou no ônibus, agora um senhor de uns 50 anos com várias tatuagens no braço, de bermudao e tÊnis e com aqueles brincos redondos vazados para alargar a orelha imitando índio que deixa um buraco enorme no lóbulo da orelha. gabriel suspirou e olhou para a parede colossal da face sul do corcovado e viu os fios de água escorrendo pela parede. se lembrou imediatamente do carnaval passado em que um amigo dele passou ali pendurado em uma via de escalada chamada oitavo passageiro. o ônibus continuava parando e as bonitas e arrumadas mulheres que entravam tinham o nariz empinado e cara de bunda, os homens eram cheios de marra e um baixo astral de energia completamente negativa rondava por ali. e no meio disso percebeu como em ônibus comuns as pessoas são diferentes daquelas, mais simples e mais sorridentes. não que seja uma regra mas o que se passou pela cabeça dele foi isso. conseguiu enfim ler o livro até passar em frente ao mam e saltou no ponto de costume no primeiro ponto da antonio carlos e foi andando para o predio aonde está trabalhando. suspirou fundo e entrou. disse bom dia a moça da portaria, pegou o adesivo, colocou na camisa e quando estava prestes a apertar o botao do elevador um senhor que estava lá no salão principal dos elevadores apertou antes para ele. gabriel agradeceu e o som que avisa que um elevador está chegando tocou. a porta abriu, e gabriel entrou. apertou o botaõ SL e se olhou no espelho para ver como a barba estava por fazer, a careca aumentando e a espinha na testa ainda não tinha secado - mais suspiros. a porta do elevador se abriu e ele bateu na porta de vidro que é presa por um imã. lá dentro é o cpd, aonde ficam todos os computadores da empresa aonde ele está trabalhando. o identificaram e abriram a porta. ele entrou e disse bom dia a todos e foi andando calmamente até sua cadeira, ligou o computador, sentou-se e começou a digitar esse texto totalmente desinteressante de um dia comum de uma vida comum.)

terça-feira, outubro 18, 2005

o porto

é meu amigo, estou adormecido nesse blog. não estou conseguindo mais escrever - tenho achado meus textos repetitivos e chatos. outro dia estava começando a escrever um texto (que aliás começou muito bem) e mais uma vez nele apareceram aqueles rompantes de querer virar energia, de berros e uivos. e o que me incomoda é que meus textos dizem coisas que eu não sigo. são como as formas de pão ideais de platão tendo eu como o padeiro perfeccionista. aliás, digo o perfeito aqui como o meu modo que seria perfeito de ser: emancipado materialmente, selvagem e feliz. às vezes penso que no fundo no fundo meus textos são pretensiosos e megalomaníacos. cansei de escrever: to querendo viver mais e pensar menos. aproveitar essa vida que num piscar de olhos nos escapa pelas mãos. já tentou segurar a água com as mãos abertas? já tentou pegar o vento com uma peneira? já tentou colocar o sol em um potinho e colocar na estante da sua mansão? é ... as coisas e o mundo estão ai pra serem experimentados, sentidos, não para serem possuídos. não possuo nada nem ninguém. muito menos possuo a felicidade. ela é para ser encontrada, cumprimentada, dar um abraço bem gostoso daqueles saudosos e esperar que se vá com os olhos cheios de lágrimas mas sempre com a esperança de que voltará a ver de novo - que é o que sempre acontece.
quero viver. amar. experimentar tanto a dor como o prazer. e bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla !!!!!!!!!!! azblibows bublabows!!!!!! e mais azplikows puplaktziz!!!! blog blog blog blag blag blag!!!!
hahahahahhahaahahahah!!!!!!

chega! minha nau rumo à vida aportou e é pra lá, seguindo o sol a banhar-se no mar, que vou!

quarta-feira, outubro 12, 2005

To be

Jamais houve um tempo em que não estive a procura do Ser. Quando me refiro ao Ser, aponto para o lugar onde ele não está. E sei que ele não está lá. Ele não está em lugar algum...Ele está aqui. Agora.
Apesar de não conseguir capturá-lo, e jamais conseguirei, continuo procurando, sempre em busca do Ser que nunca se perdeu, mas que sempre esteve exatamente onde estou. Se não foi perdido, porque estás a procurar? Comece lavando o seu prato, pois não há lugar onde se possa atingir qualquer "iluminação", não há caminho. Nenhum caminho leva ao Ser. Pois o Ser não se pode encontrar. E mais, ele não é para ser encontrado, pelo menos não por "alguém". Por isso não posso vê-lo, não posso tocá-lo. Por isso não estou em lugar algum. Onde eu estaria? Do ponto de vista de quem?
Estou falando de coisas que não se pode falar, mas continuo falando, falando, falando...E daí? Quem quiser entender, que entenda. Quem não quiser, que continue a xingar. Transplante de ego. Quanta besteira. Seu ego não está em lugar algum. Pelo menos em nenhum lugar que você possa olhar, tocar, capturar, desberlotar...Destruir, aniquilar.

Não há quem entenda coisa nenhuma.

quinta-feira, outubro 06, 2005

transEgo

não quero dormir pois tenho medo de acordar. fico por aqui perambulando por esse estado de vigilia procurando algo para fazer, vasculhando sites na internet ou então esperando até que o kurosawa escreva algo para continuarmos nesse caminho sem sentido algum de escrever sem parar divagando sobre o pensar.
tenho sonhado muito, sonhos com catracas na orelha, negação a deus, copos se transformando em chifres, carros afogados sendo dirigidos por espíritos, macacos jogando côcos na minha cabeça, baratas saindo do meu coro cabeludo, surf em piscinas artificiais dentro de salas, vidas submarinas ... ai ai ai...
acordo e indo trabalhar na minha rotina diária - jardim botânico, voluntários, praia de botafogo, praia do flamengo, beira-mar, passeio - fico reparando como a personalidade e a vida vai moldando o rosto das pessoas: um cara alegre fica com rugas voltadas para cima ao redor da boca, já um cara triste emburrado fica com as testas pesadas e as rugas ao redor da boca voltadas para baixo...
e por falar em rotina diária, vi hoje em um outdoor de ponto de ônibus uma frase da poeta e atriz elisa lucinda que me deu um soco no estômago: "Parem de Falar Mal da Rotina". depois dessa frase comecei a olhar as pessoas na rua com outros olhos e a frase que um mestre zen disse a seu aluno depois que este lhe perguntou "mestre, como faço para atingir a iluminação" o mestre lhe respondeu "Comece lavando seu prato" fez todo o sentido para mim. e logo eu que reclamo tanto da rotina! meu deus! como reclamo ... sou um chato insuportável. até eu não me aguento mais! quero parar de pensar!!!
- será que já fazem por aí transplante de ego?

quarta-feira, outubro 05, 2005

Desnudar

Queria me desnudar por inteiro...Mentira. Não quero saber o que se esconde por detrás do labirinto, o Minotauro não é conhecido nem será. Que faço eu? Eu, eu, eu, eu, eu....Ou seja, EU! A linha tênue entre loucura e sanidade, entre a vida e a morte, entre prazer e dor, sonho e vigília, culpa e liberdade...É aí que me encontro, no limbo da psiquê, no abismo da mente que eu mesmo cavei com meus próprios pensamentos...Sinto falta do que nunca fui, do passado que nunca aconteceu...E do futuro, sinto ele se esvair por entre a realidade concreta e dura...Divago sobre minha consciência num dia de chuva, onde nada acontece, só a multidão de pessoas dentro do meu estômago e o pânico de estar só. Fico a esperar uma solução vinda da desgraça, oscilando entre a verdade e a mentira mas só encontro a verdade falsificada, mascarada...Nada mais me toca, nada mais satisfaz o desejo de nunca me satisfazer por inteiro, inteiro, inteiro...Palavras, palavras, palavras...Apenas palavras soltas como metáforas e meta-liguagens usadas e descartadas...Uma bela visão não é mais do que uma bela visão...E só. Só, sozinho, inerte, cansado...