quarta-feira, janeiro 25, 2006

A divina comédia

Os demônios voltaram. Arrombaram os portões do Hades. Com força total, fugiram do cativero em que eu os aprisionei. Vieram pra dizer que não irão me deixar em paz. Nunca. Já mostrei a eles que não quero mudar. Que não quero seguir nem trilhar este caminho desde sempre traçado exclusivamente para mim. Quero continuar contemplando minha encruzilhada até o fim. Naõ adianta. Do inferno os demônios voltaram, expondo o lado caótico e imprevisível de tudo o que me é "familiar". Mais uma vez, vieram pra mostrar minhas fraquezas e sentimentos renegados. Pra mostrar a fragilidade de tudo o que sustenta minha realidade, a impermanência do fundamento em que me encontro acomodado. Vieram sem misericórdia, como sempre. Sem pena de mim, sem se preocupar se eu vou aguentar. Quero cruxificá-los! Voltem para a escuridão! Voltem para o Khaos primordial! Vocês já estão mortos! Eu já os matei!!! Sinto mais uma vez minhas velhas feridas latejando, minhas veias da testa pulsando e o ódio revigorado tomando todo o espaço do meu coração! A ira é o meu pecado capital! Ela emerge do oceano de lágrimas e mágoas represadas pela minha razão. O mundo não faz mais sentido algum. O que restou foi somente o velho império cego da vontade. Chegou a hora de usar o machado. Vejo agora que na última batalha as raízes não foram abaladas.

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Capítulo I

Estava em casa vendo big brother brasil 6 quando o telefone tocou. Uma voz que não me era estranha disse: "você está procurando sarna pra se coçar." e desligou logo em seguida.
Porra, eu estava tranquilo em casa e era óbvio que aquela morte tinha algo mais do que simplesmente miolos espalhados no chão. e é óbvio que eu e todos ali chorando sobre os restos esmigalhados já sabiam disso, mas preferi me fazer de otário. Mas esse telefonema me incomodou e foi como que um pedido preu levantar a tampa do esgoto, nem que isso custe minha vida dando enfim algum sentido nessa minha existencia de merda.
Comecei então a querer juntar os pedaços, não dos miolos, mas do quebra-cabeça.
O garoto desmiolado era filho de João da Rapadura, um esfomeado que em plena ditadura roubava caminhões lotados de comida para doar na pequena vila em que morava. Em pouco tempo ele virou um ícone de sua região. Os militares ligaram ele ao movimento comunista, o prenderam e o torturam. Ficou preso alguns anos até ser libertado sem os dedos das mãos.

terça-feira, janeiro 17, 2006

Intro

Só me lembro da paulada no crânio e todos os miolos do garoto espatifados naquela estradinha de terra.

O sol a tino. Estradinhas de terra batida. Fervendo. Poeira, garotos pobres de bermuda e funcionários de mangas de camisa. Era uma vila de moradores comuns, composta de casas de tijolos a mostra e botequins de família. Lembro também de garotos soltando pipa e de mulheres de verdade marcadas pela realidade. Sem tirar nem pôr. Aquilo eram mulheres de verdade. Não essas putinhas de família daqui.

O rapaz estava morto. A vida continua. A realidade continua. Inabalável. A mente continua a projetar o mundo em que me encontro. Se é por vontade minha eu não sei. O que sei é que o mundo ainda está aí. Ou melhor, aqui. Dentro da minha cabeça. Os miolos dele estavam no chão. Sua alma não parecia estar alí. Que merda. A dor de cabeça continua. Talvez fosse melhor explodir minha cabeça também.

Puta tragédia. Este rapaz devia ser querido por aqui. Mulheres chorando. Talvez o garoto tivesse muitas mães. Coitado. Melhor assim.

O problema não era o garoto. Disso eu me dei conta logo depois que ele morreu e nada mudou. Fiquei sem fazer a barba por dois dias, procurando por algo verdadeiro nas favelas e conjuntos habitacionais. Agora não quero mais encontrar. Acho que vou desistir desta merda.

Decorador de interiores

Acordou no dia seguinte e o elefante ainda estava lá.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Hospital

É domingo. Lúcifer está a caminho da igreja quando se dá conta que esqueceu o dinheiro do dizimo...Ele volta lá pra baixo e encontra com o Gabriel sendo queimado como um porco no espeto e urrando de dor...Lúcifer dá um peteleco em seu ouvido e pensa: Este está quase no ponto! Mais algumas crises e mal-entendidos e ele me substituirá!

A consciência inabalável continua inabalável...e se movendo...Deus está se movendo...pra frente e pra trás, numa dança ininterrupta de festas sobre frestas e masmorras de cetim...Que estou Eu a falar? BLÁBLÁBLÁBLÁ TOMÁ NO CU CARALHO!!!

Penso que a náusea, a crise, o mal-estar é no fundo somente um grande mal-entendido...Uma confusão que está sempre prestes a se desfazer...E se desfaz...Mas volta a agir e agir e agir eternamente agora...O inferno é aqui e agora! Num ato de desespero encontro a saída do túnel de aflições e consigo escalar as fendas tenebrosas da mente que vibra...O COSMOS VIBRANDO!!Um zumbido de silêncio ensurdecedor a passar pelos poros de energia gritante! Macacos me mordam, quero que este poste caia na cabeça daquela velha fudida...O momento não se sustenta pois não há nenhuma sustentação...Mas existem momentos em que percebemos o quão afundados nesta lama intelectual nos encontramos...Mas sempre jogamos para o futuro...Sempre buscando algo que no fundo nunca se perdeu...Só pelo prazer de procurar...Como um presente embrulhado de novo...só pra poder abrir de novo e de novo...um baralho embaralhado again and again and again...

Somos crianças bailando num brinquedo de espinhos e rosas de plástico...Que estou eu a falar de novo?...

terça-feira, janeiro 10, 2006

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Pedagogia e perda de tempo

Todo mundo sabe que não se aprende de fato muita coisa útil na escola. Muito menos na universidade. (continua)

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Traído

O que escrevo não sou eu que escrevo, mas meus pensamentos que se precipitam a julgar e criticar uma imagem que eu próprio faço de mim mesmo. Quem está jogando contra quem? Ha! O momento já passou e eu nem percebi o quão grande e luminoso ele era. Tudo se precipita na minha frente: minhas reações, meus pensamentos, meus músculos, minhas mãos, sentimentos, olhos...Eu sou sempre o último a saber.

And all that could have been

Nada pra fazer a não ser escrever neste espaço de teias de aranha e desprezo. Não sinto "isso aqui" tão vazio desde quando "isso aqui" nem existia. Pra que perder mais tempo? Me confirme logo que tudo o que se escreve aqui é merda! Eu quero ouvir! Pra que escrever se ninguém vai ler? Pra que se esforçar sem alguém para salvar? O pior castigo é o desprezo. Não me leve a mal, não tenho o que fazer mesmo. Não é nada pessoal. Momentos são momentos são momentos. Eu sei. Mas por favor me diga se vale a pena escrever? Se vale a pena viver? Se vale a pena acordar? Se vale a pena nadar e não afundar? Quanta tristeza é necessária para mover o monte Fuji? O dia em que eu tudo entender, será que irei finalmente começar a viver? Sonho com uma vida longa. A realidade apaga o futuro e me joga no presente sempre quase chegando ao final. Perdi o melhor da festa fantasiando. Que me importa escrever? Uma vírgula, um romance...Quando vou parar de sonhar? A vida passando, a morte chegando e eu me escondendo no devaneio de uma mentira qualquer. Começo a catar os restos de uma vida desperdiçada. Imagino tudo o que poderia ser. E não foi. Não saiu como eu queria, como eu planejei. E agora me tornei um deles. Os amaldiçoados. Fim.

quinta-feira, janeiro 05, 2006

Câncer

Nascemos com uma faca atravessada nas costas, na altura do coração. Tudo o que não for uma tentativa séria de tirar a flecha é fugir da dor, fingir que não há nada de errado, é tentar distrair os demônios ao invés de matá-los. Como vivemos nossas vidas? surfando pelas ondas de superficialidade da praia do cotidiano? Satisfazendo vontades que se multiplicam exponencialmente, comprando tralhas inúteis que nos fazem acreditar que somos pessoas mais "felizes"?...Tudo o que conseguimos com isso foi somente expandir um pouquinho o espaço de manobras de nosso ego fudido! Tudo isso é fugir da dor do momento presente, é tentar calar o urro que explode pelas tripas do coração, é estar morto, é viver como zumbis tagarelando um blablabla ininterrupto! Será que tens a coragem de mergulhar nas profundezas da Verdade, sem tentar escapar pelas arestas do relativismo e da patifaria intelectual? Sem fugir para sua caverna da solidão, para o esconderijo da tua ilusão, para debaixo das crenças criadas pela tua maquinaria de defesa que sempre foi consciente dos perigos da Verdade absoluta e inflexível??!! O tempo não cura uma ferida destas! Ou cortamos pela raíz este mal ou os galhos de plástico da mentira encobrirão todo o castelo de nosso coração!

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Xepa

Hoje acordei em depressão
Quando que não?
Hoje você não veio me ver
Que me importa escrever?
Uma vírgula
Um romance
Uma lágrima no chão
E meu pau na tua mão!

Deus

Sou o mergulhador das profundezas, o cristo bastardo que pensa poder salvar a todos com sua arrogância esquizofrênica. Sou o pangaré encostado num canto da praça. Sou o olhar, não o observador. Sou a consciência iluminada e transparente. Vivo nos abismos da mente, nas fendas do pensamento. Sou o furo no sistema contaminado. Sou a doença genética dos filósofos e pensadores, a depressão dos solitários e ateus, o câncer de espírito, sou a misericórdia e a moral Kantiana, o grito dos miseráveis e nazistas, a bondade dos torturadores e assassinos, o terror e o desespero do instante eterno em que se percebe a presença da eternidade, o espanto do filósofo, o crucifixo na escuridão, o hesitar diante do rito de desmembramento do ego, a inconsolável certeza de quem sabe que nunca irá morrer. Sou o tédio insuportável da história atemporal, a agonia da impossibilidade do nada, o vazio de superficialidades, o surto de concentração involuntário diante do presente, o desejo incontrolável de matar, o momento preciso antes de desmaiar, a não-escolha em para sempre amar, a incomparável experiência de se doar, o murro na faca do pecar, o gosto de sangue ao gozar, o ritual fúnebre de ganhar. Sou a tentação permanente em fazer o bem. Sou a morte do ego e a existência de vazios criadores de mundo. Sou um torturador de egos com pensamentos de abandono.